O corpo do baiano que está entre os nove mortos após um tumulto em uma ação da Polícia Militar na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, foi transferido para a Bahia na tarde desta terça-feira (3).
Segundo familiares, a mãe da vítima pegou um empréstimo de R$ 5 mil e um banco para pagar o transporte do corpo, de avião.
Mateus dos Santos Costa tinha 23 anos e há cerca de 5 havia saído de Maracás, no sudoeste baiano, para morar em São Paulo.
Ele participava de um baile funk na madrugada do domingo (1º), quando ocorreu a ação, e acabou pisoteado no tumulto, junto com as outras vítimas, após a chegada da polícia no local.
O corpo do jovem saiu de São Paulo no início desta tarde e chegou na
Bahia por volta das 14h.
De acordo com uma das irmãs da vítima, Fabiana Santos, o avião com o corpo do jovem pousou no aeroporto de Ilhéus, que fica 258 km de Maracás, e de lá o percurso será
concluído no carro da funerária contratada pela família.
O corpo do jovem será velado na casa da mãe dele até a tarde da quarta-feira (4). O sepultamento será realizado às 16h, no Cemitério Municipal de Maracás.
Segundo Fabiana Santos, como a família não tinha o dinheiro para o transporte, o empréstimo foi a
alternativa encontrada. Ela conta que uma prima chegou a sugerir uma vaquinha online, mas a família preferiu não expor a memória do jovem com a ação.
O empréstimo será descontado na aposentadoria da mãe de Mateus, que é cadeirante.
A família está muito abalada com o caso. Eles não viam o jovem desde que ele se mudou. Em entrevista ao G1, Fabiana Santos contou que mora em Salvador, mas foi para Maracás para dar apoio à mãe, que está desesperada. Ela pede justiça pela morte do irmão.
“Agora estamos sentido dor e tristeza, tudo junto, e quem fez isso não está nem aí. Minha mãe está desesperada, triste. A gente sabe que não foi acidente. A gente assiste jornais, a gente viu os vídeos, a gente sabe o que aconteceu“, contou.
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo instaurou inquérito para avaliar a conduta dos policiais. Seis PMs foram afastados das ruas e já prestaram depoimento.
Natural de Maracás, Mateus se mudou para São Paulo em busca de emprego e morou por alguns anos com o irmão mais velho, Moisés dos Santos Costa, que já havia se estabelecido na capital paulista. Eles trabalhavam juntos vendendo produtos de limpeza.
Mateus era solteiro e atualmente morava sozinho em uma casa próxima à residência do irmão, em Carapicuíba. As outras vítimas que morreram após o tumulto também não eram da comunidade de Paraisópolis.
Em entrevista ao G1, na segunda-feira (2), a cunhada do jovem, Silvia Ferreira Gonçalvez, contou que a família não sabia que ele estava no baile na noite do domingo, mas tinha conhecimento de que ele frequentava a festa.
“Ele [Mateus] já foi nesse baile, inclusive com o meu filho“, afirmou Silvia Ferreira Gonçalvez, cunhada de Mateus. “Era um moço trabalhador. Tanto é que o patrão já procurou a gente hoje“. A cunhada também descreve Mateus como “um menino tranquilo“.
“Ele só foi para lá porque Carapicuíba não tem opção [de lazer], nem para a gente que é casal. É o único jeito que eles acham de curtir“, contou a cunhada da vítima.
Já o irmão da vítima contou, na segunda-feira, que Mateus estava juntando dinheiro para voltar para a Bahia, para ficar com a outra parte da família.
“Ele estava tirando carteira de motorista e juntava dinheiro para comprar uma moto. Dizia que ia trabalhar de motoboy e, nas horas vagas, ajudar nosso pai, que é lavrador“, disse Moisés dos Santos.
“É longe, a viagem é cara. Ele era trabalhador e juntava todo dinheiro que ganhava“, completou.
Foi o casal que reconheceu o corpo do jovem no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo. A família soube da morte por meio de amigos. Após receber a notícia, assistiram aos vídeos da ação policial. Em uma das filmagens, a vítima aparece caída no chão.
“A gente foi pega de surpresa, estamos em choque. A gente viu os vídeos dele caído no chão, todo machucado“, contou Silvia.